foto por Joel Cardoso - Cemitério Parque dos Ipês - Jundiaí/SP
Os pêsames
e os parabéns
Ao cair da tarde, numa cidade do interior, foram dois os significados
para “o pôr do sol”.
Era 06 de Agosto de 2013.
Enquanto muitas pessoas já haviam me ligado ou escrito algo
sobre o meu aniversário, uma amiga muito próxima tinha que lidar com o luto por
perder seu pai para uma doença implacável, o câncer.
Desde o anunciado sobre a expectativa de vida – por volta de 6 meses -
até o dia do último adeus, foram 42 dias
de um misto de sentimentos: o desejo de que os exames estivessem, ao menos um
pouco, equivocados; o desejo de regressão e, se possível, cura dessa doença; a
incerteza de como lidar com a informação, sem negá-la, mas sem “entregar-se” a
uma morte ainda em vida; e o que acontecerá depois disso?
O tempo de vida foi abreviado de todas as formas possíveis,
mas apesar dessa dor e desse luto que precisa ser vivido, “há tanta vida lá
fora” e o meu desejo é que a vida seja reconfigurada e que haja motivo
suficiente para o recomeço ao olharem uns para os outros.
No encontro, dentro do cemitério, próximo à cova, minha
amiga e eu nos abraçamos fortemente e enquanto eu apresentava meus pêsames, ela
me dava parabéns pelo meu aniversário.
Este é o momento exato em que se encontram a festa e a dor.
A vida sendo celebrada e a morte sendo chorada. E tudo isto faz parte do viver.
Assim como ela não se esqueceu de demonstrar a importância
da minha vida, mesmo diante da morte tão dolorida de seu pai, eu não deixei de
celebrar a minha vida e receber todo o carinho que me foi dado neste dia e,
mesmo assim, reservei meu espaço para chorar o que dói naqueles a quem amo.
Se a dor de quem amamos não doer em nós e, se a alegria de quem amamos não for
nossa também, há algo de errado em nossa maneira de entender o amor.
O sol se pôs definitivamente para uma convivência para a
família e amigos de quem se foi.
O sol se pôs para uma fase e renasceu no dia seguinte para
um novo ciclo em minha vida.
Mas, enquanto houver sol é preciso renovar as forças,
aquecer a alma e chorando, sofrendo, festejando, vivendo ao lado de quem
amamos.
“...Quando não houver desejo,
Quando não restar nem mesmo
dor,
Ainda há de haver desejo
Ainda há de haver desejo
Em cada um de nós, aonde
Deus colocou...
Enquanto houver sol,
Enquanto houver sol
Ainda haverá,
Enquanto houver sol, Enquanto
houver sol” (Sergio Britto - Titãs)
Eu entendo isso... perdi meus dois queridos pais dia 30 de março desse ano...no dia seguinte, 31, dia do meu aniversário, eu os enterrava...
ResponderExcluirQue pena, Amanda!! É muito duro ter de transitar entre estas duas realidades simultaneamente!!
ExcluirMeu lamento e meu respeito a você!!
Que lindo esse texto. Vcs dois são pessoas raras. Beijo.
ResponderExcluirObrigado. Foi tão impressionante que explodiu em palavras.
ExcluirBela escrita meu camarada. Sensibilidade com a vida e com a morte (dois lados de uma mesma moeda) deram tom poético à sua escrita. Obrigado.
ResponderExcluirObrigado, meu amigo!! Grande abraço!
ExcluirMuito bom,e de sensibilidade palpável. Uau!!!!!
ResponderExcluirSob o mesmo sol, a sensibilidade.
ResponderExcluirmuito bom! que Deus continue te abençoando e iluminando
ResponderExcluir" muita saudade de todos vocês"
OSÉIAS