quinta-feira, 29 de abril de 2010

janela para a liberdade

Quando se inicia a vida escolar, a pessoa (criança) já sabe falar diversas palavras, elaborar frases, mas, instrumentalizada, melhora a cada dia sua compreensão das coisas.
Entendemos, quando crianças, alguns significados e melhoramos - ou simplesmente mudamos - nossa percepção destes significados conforme amadurecemos.

Isso não é, necessariamente bom ou ruim. Há, somente, outras perspectivas conforme evoluimos em nossa cosmovisão.

É assim também na trajetória da espiritualidade.

Dado o amadurecimento na compreensão e o aguçar do senso crítico, passa-se a levantar questões sobre visões válidas em outra fase da história, mas que podem nada dizer nos dias atuais.

Concordo com Julio Zabatiero quando propõe uma "auto-revisão" porque a prática dos nossos pais não precisa, necessariamente ser a nossa prática.

Numa família se o bisavô não andou de carro, ou o avô não teve telefone celular e o pai fez outra opção de espiritualidade, não quer dizer que este seja o jeito "certo" de se viver.
Viveram balizados por seus contextos, mas hoje há outras possibilidades.

Não é preciso cristalizar a percepção do que dizemos ser a Verdade, pois a Verdade é mais importante do que a percepção.

A igreja sair do "centro" para a margem, se tornando parceira na caminhada popular é realmente espiritualidade com frutos de justiça (leia-se justiça social, que creio ser desta que devamos ter fome e sede).

Também concordo com Zabatiero quando diz que "sem auto-crítica, a militância se reduz a mera ignorância... e ortodoxia vazia"

Olharmos para um texto e nos enxergarmos nele é como olhar para um espelho. O espelho revela, mas distorce. Revela, mas mostra a imagem ao contrário. Não podemos nos encantar mais com o espelho do que com a pessoa. Quando isso começa a acontecer é necessário transformar esse espelho em janela, porque por ela vemos outros horizontes, temos a liberdade de sair para o quintal ou para onde quisermos e, se quisermos, podemos até mesmo entrar e sair... e entrar e sair...

Uma revisão e uma auto-crítica nos deixam livres de fundamentalismos.É preciso que o nosso "espelho" seja transformado em "janela" para que não seja criado outro fundamentalismo. A liberdade deve continuar a ser priorizada, inclusive àqueles que se oponham ao "nosso pensamento".

Nosso pensamento que pode virar um método.

Não optaria pela palavra método - que significa "caminho para se chegar a um fim". Um método pode induzir ao fim que se deseja.

Melhor seria ter ferramentas e com elas possibilitarmos sempre a CONSTRUÇÃO da história.

Com ferramentas, cada pessoa pode fazer sua construção, utilizando-se do novo, ou até do velho, enfim... do que couber em seu contexto.

Joel Cardoso

domingo, 25 de abril de 2010

doce presença

Aconteceu em Maio de 2006.

...Era mais uma manhã no hospital - talvez a sexta ou a sétima; eu estava internado por causa de um pneumotórax espontâneo que me pegou de surpresa e quase me tirou todo o fôlego (literalmente).

Meu irmão entra pela porta trazendo revistas e jornais pra que eu soubesse um pouco do que estava acontecendo naqueles dias fora dali. É... porque ali eu sabia bem o que acontecia, eu estava me recuperando de momentos terríveis de dor e do trauma de saber que por alguns poucos minutos não morri.

Meu irmão me deu um beijo, e perguntou:

- Você deve estar pensando em coisas que nunca pensou, né?

Eu respondi:

- É, e também tenho deixado de pensar em coisas que sempre achei que fossem importantes.

A conversa se desenvolveu e falamos sobre diversas coisas.

Depois que ele foi embora fiquei pensando nessa pergunta e nessa resposta. Pouco tempo depois eu estava colocando em palavras o sentimento que me envolveu nesse trecho da conversa.

O que seria realmente importante na vida? É simples a reposta: a vida.

E só é possível viver de verdade, ou plenamente, se eu me encontrar com o meu Criador.

Sentir a presença dEle nos momentos angustiantes no hospital, foi como colocar doce nos lábios, adoçando a alma e chegou até o meu entendimento.

Aquilo que eu pensava, cantava e poetizava sobre a presença de Deus, foi quase que palpável.

O que sempre sonhei e desejei em relação a tudo na vida, quase se foi em um piscar de olhos, mas a presença doce desse Deus não me deixou nunca.

Essa é a verdadeira importância da vida.

Eis a minha oração e música:

“É doce a presença do Senhor. É tão doce receber Teu amor

Mesmo na dor ou se a morte rondar

Se a noite calar sem o sono chegar

Se longe de todos eu quiser chorar

Eu sei que Tu, meu Deus, estás comigo

Muito mais vale ter Tua presença, até no vale sinto Tua presença

Mais do que realizar todos os meus sonhos

Eu prefiro sempre estar em Tua presença, Senhor”.


Joel Cardoso